No silêncio dos
meus momentos todas as palavras ficam caladas. Por momentos, penso, que dentro
da minha cabeça existe um narrador. Um narrador que me fala dos meus
pensamentos, que os narra, minuto a minuto, como se tentasse que a minha vida
ficasse mais percetível. Tento ouvi-los atentamente enquanto as frases não me
machucam. Ás vezes, os pensamentos, mesmo que nossos, são tão cruéis como as
frases dolorosas que ouvimos dos outros. Queimam o cérebro e o coração. Queimam
os momentos e deixam que as pessoas se tornem intocáveis a cada gesto. Ás vezes,
penso que sou, apenas, mais uma cabeça cheia de memórias, de pensamentos e de
divagações constantes. Mas, às vezes, também sou mais do que isso. Sou
transportadora das palavras, mesmo que mudas. Das palavras que querem sair e
não saem. Das palavras que têm de ser ditas, mas que não têm ninguém para
ouvi-las. É tão difícil viver assim. Porque todas as palavras não devem ser só
nossas, devem ser partilhadas de todas as formas. Devem ser transmitidas mesmo
que num simples olhar em que os pensamentos se cruzam. Eu pensei que tu
estivesses presente em todos os meus momentos, mas não te disse. E tu, afinal,
não estavas mesmo presente. Já tinhas ido embora há muito tempo, mas eu ainda
te sentia aqui. Tão perto e tão ofegante como antes. Não me disseste que
querias ir embora. Eu também não te pedi para que ficasses. Então aí eu percebi
que não adianta que eu, simplesmente, pense em ti. Devia ter-te dito que
preciso de ti. Que preciso tanto de ti... Malditos pensamentos que me roubaram
as palavras!

 
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