Estou despida do meu mundo.
Retirei-o e pendurei-o naquele cabide esquecido atrás da porta. De que adianta
ter um mundo se ele está parado? Os dias já não passam e as horas congelaram
algures no tempo. E eu fiquei ali esquecida, mergulhada em memórias de conserva
que nunca ficam fora de prazo. Já não oiço os teus passos nem sinto o teu
respirar no meu pescoço. O teu cheiro é tão intenso que se camuflou na minha
roupa e não saí. Parece que também ele se perdeu nas fibras que um dia te
tocaram. E eu perdi-me em ti, tal como no dia em que me encontraste,
ironicamente, perdida em mim. Os silêncios são as ausências que ninguém
consegue explicar. As tuas palavras são apenas devaneios de quem não compreende
ou não quer compreender. Não sei o que estás a pensar, nem tão pouco sei se
ainda pensas em mim. Mas o facto de não saber, não quer dizer que não acredite
que o faças. Ou que tu realmente o faças. E, apesar de ter despido o meu mundo
e de ele continuar pendurado lá no cabide, não quer dizer que te tenha deixado.
Não quer dizer que não o volte a vestir nem que tu não o voltes a preencher e a
despertar. Sou apenas a madrugada fria à espera que o sol nasça para a aquecer.
Sou apenas as palavras que divagam nos momentos e nos pensamentos. Sou um corpo
que precisa de ti, uma alma que te necessita, um coração que bate por ti. E
quando os momentos me fazem compreender a verdadeira razão do meu mundo ter parado,
tenho vontade de voltar a vesti-lo de novo, não vá tu voltares e eu não estar
lá. Por isso, pé ante pé, dirigi-me ao cabide. Observei o meu mundo, vazio como
um balão, e vesti-o de novo. Não sei qual foi a sensação, mas sei que a senti.
E se antes tinha ficado vazia de alma e transparente de dor, agora estava
brilhante e opaca e os sentimentos estavam em paz. Ou seria eu que estava em
paz com os sentimentos?! Saí e fechei a porta. Dirigi-me para onde o caminho me
levou. Sentei-me onde me deixaste. Não, ainda não voltaste para mim. Mas vais
voltar, eu sei que vais. Eu acredito que vais. E não, não me voltarei a ir
embora sem tu voltares. Ficarei aqui até sentir o teu toque… Até te ver… Até
ter a certeza de que vieste para ficar! Eu sei que tu sabes o caminho até mim.
Continua tatuado no teu coração. Ouve a melodia que te acompanha a cada
instante. Aquela com que me embalaste nos teus braços. Vem até mim. Estou aqui
à tua espera, onde o meu mundo parou!
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