Os
dias já não passam, arrastam-se. Sinto a tua falta. O teu cheiro, a tua voz, o
teu abraço vão-se dissipando a contra-relógio. O meu sorriso à muito que não
surge nem brilha espontaneamente. Tu foste embora e nunca mais deste notícias. É
como se, para ti, nada tivesse existido. Fecho-me em clausura d’alma, ao abrigo
de ninguém. A perfeição tornou-se a imperfeição e tu levas para ti o meu pó. Os
meus olhos já não vêm o mundo. Apenas vêm desfocagens a black & white como um efeito Photoshop. Estou despida de tudo o que me fazia ser eu. E, quando
foste embora, levaste-me as roupas mudas de um corpo abandonado. Levaste tudo o
que era teu, menos o meu corpo físico. Mas como posso eu sentir esta dor? Eu já
não tenho nem alma nem coração. Tu levaste-os contigo. O meu sangue apenas
corre as veias pelas quais já está habituado a passar, como que numa rotina
diária, um hábito adquirido. Eu já não sou mais eu. Mas tu serás sempre parte
de mim. Quer tivesses ficado ou tenhas ido, serás sempre uma parte de mim. Ainda
hoje não compreendo o motivo porque partiste e, mesmo que isso me consuma,
continuo a tentar encontrar uma explicação racional para tudo isto. Mas o meu
cérebro já não está lúcido. As ideias já não são lógicas e coerentes. Os
músculos vão se atrofiando e o raciocínio perde-se. E, cada vez mais, eu sou
menos eu. Ainda recordo facilmente as memórias e as palavras. São elas que
ainda me dão alguma credibilidade no meio do meu delírio. Mas sei que, em
breve, também elas vão partir de mim. Também elas me vão abandonar e deixar-me
por aí, tal como tu fizeste. Tudo isto foi como uma bala perdida mas certeira. E,
lentamente, eu vou morrendo mais um bocadinho. O oxigénio começa a escassear e
a dificuldade de sobreviver aumenta. Dizem que já ninguém morre por amor… Pois
não, as pessoas é que matam o amor ou o deixam morrer e, consequentemente,
morrem sem ele. Por isso, ele nunca matou ninguém! E tu, tal como todas essas
pessoas, mataste o amor. O assassino aqui és tu. Por isso, rende-te aos
sentimentos e volta! Ressuscita-o a ele e a mim de uma só vez. Não me deixes aqui
a morrer em pedaços… Já não me resta muito tempo nem oxigénio. O delírio volta.
Oh, já não consigo respirar… Falta-me o ar. Faltas-me tu. Morri.
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