Acordei. Este sono em sobressalto agita-me a psique. As recordações chegam em bandos de meses já passados. De anos esquecidos no fundo do armário. Os momentos foram diluídos pelas mágoas, presos pelas lágrimas e pelas palavras, inesgotavelmente frias. Mas parece que nunca foi suficientemente esgotante para acabar. E renovou-se a cada trégua.
Acendi a luz. O relógio já marcava as 3 horas. Mas o tempo é tão relativo... Vagueei por mim e por ti, sem destino nem paragem. E quando o caminho acabou estava exatamente onde estou agora. Este ciclo não tem retorno. É um caminho sem saída. E perdemo-nos mais um pouco quando tentamos fugir às encruzilhadas da vida. Mas onde está a nossa estrada?
Acendi um cigarro, na esperança de me consumir. Este cansaço já me embala e os pensamentos esgotam-me. Mas o sono não voltou. E fiquei acordada, tentando enfiar todas as recordações na caixa. E deixa-las esquecidas onde deviam estar. No passado.
Minuto a minuto, num tic-tac envolvente, as horas passam. O tempo nunca pára. E esta ampulheta deita grão a grão a angústia que sinto em mim. Temos pontas soltas que não amarramos juntos. E temos amarras que não soltámos. Eu parti sem te deixar destino. Mas, o teu destino era comigo e eu não percebi. Por isso, tu nunca me deixaste e seguiste todas as minhas pegadas. E eu quis partir sempre mais, para não ter que regressar à estrada. Mas será que está na hora?
Duas horas de tic-tac e voltei para a cama. O mar em que me afogava estava a mudar de maré. E o breve amanhecer era já mais calmo. Exausta de mim adormeci. Mas o sonho continua...
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