Tenho café, cigarros e tempo perdido. E, curiosamente, aquele que mais me mata é o tempo perdido. Vejo a chuva que cai, lá fora, mas não a sinto. Não a sinto porque não sinto nada. Preciso de estar a sós com a minha consciência e que ela me volte a colocar fora do tempo perdido, nos dias exactos em que sou eu. Eu e tu. Estou ausente da minha realidade. Perdi-me nas horas a fio de pensamentos sem fim. Perdi-me nas divagações que nunca alcançam o limite, que nunca chegam às conclusões finais. Quanto mais temos tudo, mais queremos alcançar. Sinto-me demasiado ambiciosa para me contentar com a felicidade que deveria sentir. Tenho tudo o que sempre quis e acho que me falta sempre mais. Ando perdida na loucura da cidade e os meus pensamentos são espezinhados pela agitação que me ignora matinalmente, esmagados no autocarro cheio e deixados algures pelos lugares onde nunca vou. Sei que um dia os poderei, novamente, encontrar. Mas será tarde demais? É quase inverno e quase natal e há luzes que quase funcionam completamente na cidade. O espírito e o frio toca a todos mas passa por mim. Não sinto as gargalhadas há muito tempo. Acho que perdi parte das minhas peças funcionais, estou incompleta... Desejo regressar a mim, brevemente, como se de uma viagem se tratasse. Não me lembro sequer de alguma vez ter partido... Bebo o meu café e fumo o meu cigarro. Procuro no tempo perdido aquilo que nunca antes encontrei...
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