terça-feira, agosto 28

E quando deixamos de amar alguém?






    E quando deixamos de amar alguém? Como é que isso se faz? Porque é que acontece? Será que nunca existiu amor para se amar de verdade ou ele, simplesmente, chegou ao fim, como aquele café que bebemos porque sim? No início é tudo perfeito. O entusiasmo, a relação conto-de-fadas, as flores, as juras eternas, o inesperado, o sexo e, o principio do fim... Há uma altura em que paramos para pensar. Pensar na vida, nos amores passados e nos futuros, na vida a dois, na relação, no queremos ter, no que perdemos, no que construímos e ainda temos para construir. E será que nos acomodámos ou estamos, exatamente, onde queremos estar? Começam as saudades do grande amor que perdemos, começam os pensamentos sobre o príncipe encantado que ainda não tivemos nas mãos. Será que nunca estamos satisfeitas com aquilo que temos? Será apenas ambição ou será amor-próprio?
      Eu não sei porque deixamos de amar. Não é uma receita padrão como a de um bolo de laranja ao domingo de manhã. A verdade é que as pessoas, as atitudes das pessoas, a personalidade das pessoas, os ideais das pessoas, chocam. Se não chocassem não haviam as discussões e, sem as discussões, ou o fim ou as pazes. No início os choques são bons, são bons para que as pessoas conheçam as suas diferenças e as suas semelhanças. Mas depois, depois passam dos divertidos choques dos carrinhos de choque para o choque frontal a 250 km/h na A1 a caminho do Porto. Dizem que as pessoas têm de se moldar uma à outra para que uma relação funcione. Eu acredito que seja verdade mas, nem todos (se não a maioria) estão dispostos a isso. Nem todos estão dispostos a deixar de comer torradas na cama porque ela não gosta das migalhas pelos lençóis. Nem todas estão dispostas a ir ao futebol uma vez por semana porque ele quer. Já não existem amores incondicionais nem se morre por amor ou, se existem estão esquecidos ou perdidos, por aí. Quando é que sabemos que o amor chegou ao fim? Será quando deixamos de sentir as borboletas no estômago ou na barriga (se naquele momento ainda sabemos qual a exata fronteira entre um e o outro)? Ou quando já não conseguimos ir para a cama com ele ou com ela? Ou quando já não temos a capacidade de olhar nos olhos e dizer "eu amo-te"? Ou quando nos damos conta de que estamos a pensar numa outra pessoa com quem fomos ou seremos mais felizes? Ou, simplesmente, quando cá dentro, o coração nos diz que já não o sentimos mais?
      Podemos amar várias pessoas, de formas diferentes, de intensidades diferentes. Mas isso não quer dizer que temos o direito ou a capacidade de as amar ao mesmo tempo. Porque aí, não amamos ninguém. Nem a nós. Há uma linha ténue que separa o amor da pouca-vergonha. E essa, atualmente, ultrapassa o amor.
     Dizem que não há amor como o primeiro. E essa é uma verdade incontestável. Daquelas que passam de geração em geração. Daquelas em que nos fazem descabelarmo-nos, cada vez que, nos atiram isso à cara. Mas, depois, esse amor pode ser para sempre. Pode acabar. Pode não durar. Pode existir sempre, em silêncio, guardado no coração, porque pensamos que já não amamos mais ou, porque aquele amor não nos serve para viver todos os dias. Incondicionalmente. Como antigamente.



Crónicas de uma sexta-feira à tarde (1).




Sem comentários:

Enviar um comentário

QUEM CÁ ESTÁ?



Não te esqueças de deixar a tua opinião/comentário (assinada/o) no meu blogue.
Prometo visitar-te e retribuir.