Vieste pé ante pé, como esse teu jeito de quem conquistou o mundo. Entraste na minha vida tão lentamente e, ao mesmo tempo, tão derrompante como um cavaleiro andante que já sabia ter ganho a guerra. A pouco e pouco eu, apreensiva, tentei manter a distância. Não deixaste. Não consegui. Bastaram apenas uns minutos para eu sentir que o sonho tinha começado. Vieste ter comigo, com certezas absolutas, certezas essas que eu não podia questionar. E ao deixar-me levar pelos momentos e por ti, tu, beijaste-me. Ou eu beijei-te. Será a eterna discussão de um primeiro beijo que não controlamos. Senti os teus lábios nos meus e, de repente, o mundo à nossa volta parou. Nada mais interessava, agora. E quando me soltaste, meigamente de entre os teus braços, tudo tinha mudado.
Segui para casa de sorriso nos lábios. O coração batia forte. Ainda sentia o teu beijo, o teu abraço, o teu cheiro... Ouvia a tua voz nas palavras.
Os dias foram passando, tudo era tão perfeito e tão mágico. Tão diferente do normal. O teu abraço transmitia-me tudo aquilo que faltava em mim e na minha vida. Era seguro estar ali. Estavas presente em cada passo, em cada lugar, em mim. Cada dia que passava era melhor do que o anterior. E cada vez que estava contigo, apaixonava-me ainda mais. Estava completa. Estava feliz.
Um dia, como que por previsão, senti que tudo ia desabar. Á saída de tua casa, aquele abraço... O nosso ultimo abraço... Foi o aperto no coração e as lágrimas soltas quando te deixei, elas estavam a avisar-me. Eu sentia, eu sabia que ia ser o último... E foi. Pelo caminho, na minha cabeça ecoavam coisas sem sentido, distorcidas, alheias ao resto. Não dei conta do caminho que fiz, os meus pés já o sabiam de cor. Durante todo o dia a angústia consomia-me cada vez mais...
Á noite, a resposta chegou. As tuas palavras e o fim. Tudo junto. Tudo tinha acabado, chegado ao fim. O meu coração tinha-se quebrado como um copo de vidro que cai no chão. Não conseguia pensar, nem agir, nem falar... Chorei até esgotar as lágrimas e as forças e, ficar vazia. Adormeci para esquecer o pesadelo que era estar acordada.
Uma semana depois, ainda se soltavam lagrimas. O vazio era cada vez maior. As saudades chegavam a toda a hora. Os minutos custavam a passar. O coração estava ferido, sentia tanto a tua falta... Doía cá dentro, doía tanto e, nunca doeu assim. Falta-me um pedaço, faltas-me tu.
O tempo continua a passar... Mais uma semana longa se arrastou. Já passa da meia-noite e os meus pensamentos são apenas sobre ti, contigo. Tudo se desfez como um castelo de areia levado pelas ondas... O amor ainda cá esta. Ainda está neste vazio. Não posso dizer que tudo acabou, não posso.
Oiço aquela música... Tu sabes, aquela, que ouviamos em tua casa ou todas as noites antes de adormecer. Com um eco na minha cabeça imagino-te deitado a meu lado, com a tua cabeça sobre o meu peito e, a minha mão nesses teus cabelos loiros. Aquela textura de cabelo rebelde que eu adorava passar por entre os meus dedos... Ficávamos ali, durantes horas, deitados lado a lado. Vi-te adormecer abraçado a mim com esse teu ar de criança frágil. Lembro-me desses teus olhos azuis e brilhantes, que fitavam os meus, entravam por mim a dentro e chegavam-me ao coração. Nessas alturas tinha medo que adivinhasses os meus pensamentos e abraçava-te fortemente. Por cada lugar que passo, vejo-te lá, vejo-nos lá... Mas os lugares já não são os mesmos, já não são especiais, faltas tu do meu lado. Já não oiço o teu caminhar, ao meu lado. Já não tenho vontade de passar por esses lugares... A tua ausência dói.
Ontem disseste-me várias coisas. Disseste-me que seguisse com a minha vida e te esquecesse. Mas esqueces-te de que fazes parte da minha vida. De que não te posso esquecer, não consigo. Disseste-me para encontrar alguém que me fizesse feliz. Mas esse alguém és tu. Disseste-me que não me querias magoar mas, já o fizeste e continuas. E está tudo nas tuas mãos.
Hoje sou memória dos tempos que já lá vão. Hoje, sou a cinza que tu deixaste voar por entre os dedos das tuas mãos, ao sabor do vento. Sem ti não sou ninguém. E o que resta de mim é a sombra do dia de ontem.
(Adaptado de "O pedaço que me falta" e "Uma semana depois", 2007)
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