O tom suave da música acompanhava o compasso e a rotação de tão fino objeto. No parapeito da janela estava sempre presente aquela caixa de madeira, antiga, cujo pó só se sacudia quando lhe levantavam a tampa. O sol que incidia, ao fim da tarde, pela janela, atravessava aquele pedaço de cristal, incolor, projetando os seus raios um arco-íris na parede. A música que saída da caixa fazia com que o mundo fosse, por instantes, maravilhoso. Era um telintar de sinos que faziam a imaginação fluir e viajar por caminhos nunca antes descobertos...
Caminhava, lentamente, enterrando os pés na areia. Deixava que o vento agitasse os meus cabelos e os emaranhasse levemente. Arrepiava-me, como se me soprasses no pescoço. Apaixonei-me por aquele pôr-do-sol que vimos juntos... Bem, se calhar não foi pelo pôr-do-sol, mas sim por ti... Mas isso agora não interessa... Deste-me a mão. E acompanhaste-me nos meus passos. O mar batia-nos nos pés, beijando-os. Por fim, sentámos-nos à beira-mar. Fizemos juras de amor eterno. Tudo tão perfeito. Eu e tu. Finalmente unidos. Aproximaste-te de mim, inclinando-te...
A caixinha de música tinha perdido a corda. A pequena bailarina de cristal já não rodopiava, encantadoramente... O telintar dos sinos mágicos acabou. Despertei do meu sonho maravilhoso. Percebi que tudo era apenas um sonho bonito, mais um sonho bonito. Merda para os sonhos! - exclamei com raiva. Nunca são reais. Parece que nos crucificam sempre que aparecem. Fechei a caixa com força. A bailarina, que à instantes magicamente rodopiava, caiu no chão. Quebrou-se. Desfez-se em mil pedaços. Como eu, quando acordei do sonho... Era tão frágil e quebrou-se. Também eu, quando acordei do sonho...
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